domingo, 22 de abril de 2012

Terapia de Vidas Passadas (TVP)

Para a Doutrina Espírita, apesar de defender a reencarnação como processo natural na vida do ser humano, a questão está na utilização da Regressão de Memória à nossas vidas passadas. O objetivo deste artigo será o de discutir alguns dos principais pontos desta relação entre a Terapia de Vida Passada e o Espiritismo.

Para evitar os “achismos”, resolvemos fazer uma pesquisa a nível nacional, no final de 1998, em que apresentávamos para a população espírita um questionário sobre a Terapia de Vida Passada. Dos 500 que foram respondidos, identificamos algumas das principais preocupações do espírita em relação à Terapia de Vida Passada - TVP - e a Regressão de Memória:


  • Necessidade do esquecimento do passado;
  • Não poder interferir no processo de sofrimento causado por problemas no passado;
  • Fazer Regressão por curiosidade;

Na verdade, o que se pode observar é que a maioria das pessoas tem dúvidas se deveriam ou não utilizar a TVP como recurso, não tem uma informação correta sobre o que é a TVP, hoje.

A TVP se insere na abordagem da Psicologia Transpessoal, um ramo mais recente da Psicologia que considera o componente espiritual como uma das dimensões do ser humano, que interfere no entendimento do homem e de seus sofrimentos. Porém, na TVP consideramos a hipótese de trabalho da reencarnação como base de explicação do conteúdo obtido no processo de Regressão de Memória, isto é, julgamos que os relatos obtidos com os indivíduos em Estado Alterado de Consciência se referem às suas experiências vividas em outras encarnações.



Para a TVP, a maioria dos problemas que temos na vida atual decorrem de situações traumáticas ou bastante desequilibradas que foram vividas pelo indivíduo no passado e que deixaram marcas profundas no seu psiquismo profundo. Todas essas experiências estão registradas nesta instância Inconsciente que o Dr. Jorge Andréa (1) chama de Inconsciente do Pretérito. Algumas situações na vida atual, parecem desencadear o surgimento, na zona mais consciente do psiquismo, desses desequilíbrios, transformando-se em verdadeiras patologias. Podemos citar as fobias, a Síndrome do Pânico, distúrbios de comportamento como os sexuais ou os compulsivos, a depressão, a ansiedade, etc. como algumas que podem se beneficiar com o tratamento pela TVP.

O primeiro passo do processo está em tornar consciente esse conteúdo do passado. É nesse momento que podemos utilizar a Regressão de Memória na identificação da situação do passado geradora do sofrimento atual. Posterior e concomitantemente a essa identificação, teremos que utilizar diversas intervenções específicas para cada caso, visando dissociar a personalidade atual daqueles traumas vividos no passado. Como vimos não basta apenas lembrar o passado. Há uma necessidade de um acompanhamento terapêutico criterioso do delicado conteúdo emocional e psíquico que surge do processo de Regressão. A nossa experiência tem indicado a necessidade da TVP só ser feita por profissional da área de saúde mental que estaria habilitado ao processo de forma integral.

Como podemos ver a finalidade da TVP é terapêutica. Com isso desfaz-se uma das grandes preocupações do público espírita, em particular: a curiosidade. Na verdade o terapeuta, quando executa um trabalho sério, não considera os casos em que as pessoas procuram para saber o que foram ou fizeram de extraordinário em suas vidas passadas. Julgamos que o material que lidamos seja muito delicado para uma finalidade fútil !

Mas, a questão mais delicada do espírita parece ser a de se “levantar o véu que encobre o passado” já que seria uma “dádiva divina”. Se observarmos no contexto da Doutrina, as principais referências sobre o assunto estão em O Livro dos Espíritos na parte 2a., cap. VII, em um item que engloba as perguntas 392 à 399, com o título: O esquecimento do passado. Nesse ponto os Espíritos alertam para os inconvenientes que a lembrança do passado teria para os indivíduos. E nós concordamos inteiramente com isso !!! Vamos observar que este capítulo trata “Da Volta do Espírito à Vida Corporal”. É claro que quando voltamos ao corpo físico necessitamos do esquecimento de nossas vidas pregressas. Como, uma criança conseguiria estruturar uma nova personalidade lembrando simultaneamente de todas as suas vidas passadas? Seria impossível.

Diversas obras na literatura espírita defendem a utilização terapêutica da Terapia de Vida Passada. Dos autores encarnados, citamos o Dr. Jorge Andréa, psiquiatra e pesquisador do psiquismo profundo e da reencarnação com vasta contribuição nessa área. Mesmo entre os desencarnados, através das obras psicografadas, não há uma contra-indicação à utilização da TVP nos casos em que verificamos graves problemas psíquicos, emocionais, físicos ou de comportamento. Pelo contrário. Espíritos como Joanna de Ângelis (2) e Bezerra de Menezes (3) tem ressaltado, através de algumas de suas obras, a importância deste tipo de abordagem científica na minimização do sofrimento humano. Mas é claro que a TVP não é uma panacéia capaz de resolver todos os problemas. Como toda abordagem terapêutica tem suas limitações e dificuldades que somente uma atuação séria e criteriosa poderá superar, ampliando o potencial de cura de sua aplicação.

É o sofrimento o nosso grande objetivo! Para nossa surpresa, muitos espíritas responderam afirmativamente à questão: “o sofrimento é a melhor forma de pagarmos os erros do passado”. Isso pode levar a um entendimento distorcido da finalidade da vida e do sofrimento. A Doutrina Espírita (4) deixa bem claro qual é o objetivo das encarnações sucessivas: o desenvolvimento moral e intelectual do ser. O sofrimento representa um desequilíbrio resultante de um comportamento inadequado do passado que ainda mantém características na personalidade atual. Na medida em que se resolvam as causas cessam-se os efeitos. Em O Livro dos Espíritos, questão 1004, Kardec pergunta sobre o critério de duração dos sofrimentos a que os espíritos respondem ser função da melhora do indivíduo. Na resposta fica clara a finalidade pedagógica do sofrimento, pois quando a pessoa melhora o aspecto desequilibrado o sofrimento perde o sentido, modificando-se ou extinguindo-se.
 

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 5, temos a orientação dos espíritos de que devemos empreender todos os nossos esforços no sentido de minimizar o sofrimento dos homens. Ora se a TVP desponta como um instrumento da ciência que pode ajudar nesse processo de aprimoramento do ser humano pela dura de alguns de seus sofrimentos, por que não utilizá-la? Será que não poderíamos utilizar a TVP para ajudar uma pessoa a superar sua Síndrome do Pânico ou de uma depressão profunda por exemplo, simplesmente porque utilizaremos de suas lembranças pretéritas? Nos parece que se a TVP é uma conquista da Ciência ela está consoante aos desígnios de Deus para o progresso da Humanidade.
 

A ciência avança no sentido da confirmação do espírito, como origem e princípio básico da vida, e da reencarnação como mecanismo natural fundamental para o entendimento do homem e de seus sofrimentos. A TVP, aplicada de forma séria e criteriosa, demonstra ser um instrumento legítimo deste movimento. Como resultado desta aplicação o indivíduo se reconhece como ser espiritual eterno em passagem temporária de aprendizado pelo corpo. Ao verificar as conseqüências de seus atos passados nos seus problemas atuais pode refletir e decidir sobre quais são os valores existenciais essenciais para o seu espírito hoje e descobre a necessidade de desenvolver o Abrandamento de suas tendências negativas e a Aceitação dos problemas que enfrentamos. Ao final, perceberá a necessidade de reclamar menos e Amar mais, a si mesmo e aos outros.
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2 comentários:

  1. O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
    Capítulo V
    Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?
    27. Deve alguém por termo às provas do seu próximo quando o possa, ou deve, para
    respeitar os desígnios de Deus, deixar que sigam seu curso?
    Já vos temos dito e repetido muitíssimas vezes que estais nessa Terra de expiação para
    concluirdes as vossas provas e que tudo que vos sucede é conseqüência das
    vossas existências anteriores, são os juros da divida que tendes de pagar. Esse pensamento,
    porém, provoca em certas pessoas reflexões que devem ser combatidas, devido aos funestos
    efeitos que poderiam determinar.
    Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que as provas sigam seu
    curso. Outros há, mesmo, que vão até ao ponto de julgar que, não só nada devem fazer para as
    atenuar, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas,
    tornando-as mais vivas. Grande erro. E certo que as vossas provas têm de seguir o curso que
    lhes traçou Deus; dar-se-á, porém, conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o
    vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos irmãos: "Não
    irás mais longe?" Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de
    suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para
    fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando virdes atingido
    um dos vossos irmãos: "E a justiça de Deus, importa que siga o seu curso. Dizei antes:
    "Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do
    meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus
    conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação.
    Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento;
    se não me deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substitui-lo
    pela paz."
    Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos
    considereis instrumentos de tortura. Contra essa idéia deve revoltar-se todo homem de
    coração, principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve
    compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado de
    que a sua vida toda tem de ser um ato de amor e de devotamento; que, faça ele o que fizer
    para se opor às decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode,
    portanto, sem receio, empregar todos os esforços por atenuar o amargor da expiação, certo,
    porém, de que só a Deus cabe detê-la ou prolongá-la, conforme julgar conveniente.
    Não haveria imenso orgulho, da parte do homem, em se considerar no direito de, por
    assim dizer, revirar a arma dentro da ferida? De aumentar a dose do veneno nas vísceras
    daquele que está sofrendo, sob o pretexto de que tal é a sua expiação? Oh! considerai-vos
    sempre como instrumento para fá-la cessar. Resumindo: todos estais na Terra para expiar;
    mas, todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos
    semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade. - Bernardino, Espírito protetor.
    (Bordéus, l863.)

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  2. Sempre atentos ao Bom Senso e às necessidades reais que dirigem nossos objetivos. A Caridade Pura e Sincera, baseada nos preceitos do Evangelho.

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